Um dia surgiu, brilhante; entre as nuvens, flutuante; um enorme zepelim. Pairou sobre os edifícios, abriu dois mil orifícios com dois mil canhões assim. A cidade apavorada se quedou paralisada pronta pra virar geléia, mas do zepelim gigante desceu o seu comandante dizendo: "Mudei de idéia: quando vi nesta cidade tanto horror e iniqüidade, resolvi tudo explodir; mas posso evitar o drama se aquela formosa dama esta noite me servir". “Essa dama era Geni! Mas não pode ser Geni! Ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir; ela dá pra qualquer um, maldita Geni!”
Mas de fato, logo ela, tão coitada e tão singela, cativara o forasteiro: o guerreiro tão vistoso, tão temido e poderoso era dela, prisioneiro. Acontece que a donzela (e isso era segredo dela) também tinha seus caprichos; e ao deitar com homem tão nobre, tão cheirando a brilho e a cobre, preferia amar com os bichos. Ao ouvir tal heresia, a cidade em romaria foi beijar a sua mão: o prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos e o banqueiro com um milhão. “Vai com ele, vai Geni! Vai com ele, vai Geni! Você pode nos salvar, você vai nos redimir; você dá pra qualquer um, bendita Geni!”
Foram tantos os pedidos, tão sinceros, tão sentidos, que ela dominou seu asco. Nessa noite lancinante entregou-se a tal amante como quem dá-se ao carrasco. Ele fez tanta sujeira, lambuzou-se a noite inteira até ficar saciado; e nem bem amanhecia partiu numa nuvem fría com seu zepelim prateado. Num suspiro aliviado ela se virou de lado e tentou até sorrir, mas logo raiou o dia e a cidade em cantoría não deixou ela dormir: "Joga pedra na Geni! Joga bosta na Geni! Ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir; ela dá pra qualquer um, maldita Geni!"
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